A INVERSÃO DE VALORES

O Mundo de Pernas para o Ar - Causa e Consequências no Cenário Moderno


Todo processo de inversão de valores começa pela disseminação de narrativas. O processo histórico que temos no Brasil advém da inserção de militantes dentro da academia. Dificilmente, na atualidade, professores do espectro político de direita têm chance de lecionar dentro dos centros de formação acadêmica. Toda essa narrativa é potencializada pela imprensa, pois a mesma também absorveu muitos militantes durante e depois da ditadura. O período do Regime Militar minguou a direta pensante e o que ficou conhecido como direita foi a anti-esquerda militar aqui presente. É bastante simplista e simplório determinar direita e esquerda pelo tamanho do Estado ou por ser militarista ou não. 

É evidente que esse processo também é percebido em outros países pelo mundo. Theodore Dalrymple comenta em seus livros que o romantismo ainda não acabou e avança na pós-modernidade. Porém iremos nos focar na realidade brasileira. A sociedade esta embebida de um mito rousseauniano onde o Ser nasce sem predisposições e a sociedade e o meio o constroem de forma a não importar mais escolhas (ou retirar responsabilidades), pois todas elas chegariam ao mesmo fim - determinismo. Assim o determinismo toma conta dos discursos e o sistema passa a ser o grande culpado. Não importa mais as escolhas e as atitudes de cada indivíduo, pois as palavras são o que possui mais peso. Então o ato de alguém matar outra pessoa para roubar sua carteira será relativizado com palavras que irão sugerir um sistema perverso, geralmente penitenciando o Capitalismo. O mito rousseauniano acredita que os seres se evitam, que eram aniamis que só se procuravam por interesse de procriação, contudo a exploração começou por aquele que cercou a primeira propriedade privada. A partir daí novos "privilegiados" sugiram, acumulando riqueza. Esse mito além de risível e comovente, não passa de uma idéia torpe revolucionária que pretende atingir aqueles que o Estado não consegue alcançar por falhar. Portanto toda atitude proveniente desses "excluídos" são em busca da igualdade e de uma suposta liberdade onde o Estado seria o grande Salvador, pois esse seria o justo. Mas se o Estado for injusto, a sociedade entraria em desobediência civil para derrubar aquele Estado corrompido e colocar outro, segundo Rousseau. Veja que essa visão foi a mesma implementada na Revolução Francesa. Marx também bebe um pouco dessa ideia no 18 de Brumário. Mais tarde Michel Foucault contribui para a criação da sociedade mais vigiada e punitiva que a modernidade jamais sonhara! Hoje em dia, nós não precisamos da CIA, da KGB nem de nenhum órgão específico de policiamento. Bastou implantar na mente dos justiceiros sociais uma falsa ideia de justiça para que passassem a enxergar fobia e preconceito em tudo. Assim, a vigilância desses grupinhos, por si só, despertou em todos uma tremenda confusão mental, o medo de ser exposto e, em decorrência deste medo, o silêncio perante às injustiças e às perseguições. É ou não é uma técnica brilhante? Rousseau, assim como Foucault, acreditavam numa sociedade utópica sem divergências políticas e com diversidade estética, pois o Estado atenderia as vontades do povo (veja que vontade soa como algo egoísta, já que aqui temos o afastamento de Bem Comum). No livro Bandiolatria e Demicídio os autores falam o seguinte:

"A ausência de qualquer diversidade em uma sociedade inteira é incompatível com a própria natureza humana - e, nunca é demais lembrar, a sociedade é formada por seres humanos. É exatamente esse o vaticínio de Scruton: ao invés de tão decantada e almejada igualdade da sociedade sem classes, tudo o que a revolução conseguirá obter é uma nova sociedade de classes. nada mais do que a troca das moscas: ao cabo, tudo se resume à disputa pelo poder; o povo, em nome de quem tudo se justifica, é apenas usado como argumento, pretexto e, principalmente, instrumento. Enfim, tudo é pura e simples ideologia."

Tudo isso vem associado com a capacidade interpretativa das pessoas que está absolutamente atrofiada, de modo que elas nada mais enxergam do que palavras - campo bastante explorado pelas ideologias. A dificuldade de se vislumbrar um universo de ideias por de trás da fala ou escrita de outra pessoa é surpreendente; acabam ficando presas aos signos em si mesmos e, no máximo, às respectivas sensações mais imediatas que despertam. Nelson Rodrigues dizia que estamos dentro de uma atmosfera marxista e que esses discursos e narrativas seriam facilmente implementados. Atualmente eles se disfarçam de justiça social, politicamente correto e dívidas históricas, mas na verdade inverte valores. Ou melhor, toda ideologia e dominância vem disfarçada com alguma causa social (social é um dos signos com significado alterado) para usar o povo como instrumento. Os discursos procuram massacrar todo o ethos criando e evoluído.

De tanto martelar esses discursos, os mesmo tornam-se paradigmas, contudo os mesmos quebraram paradigmas mais antigos e evoluídos ao longo de nossa história. A corrente quebra desses paradigmas para gerar novos, segue a ideia hegeliana da tese, antítese e síntese. O resultado é uma normalidade relativista onde a falta de discernimento é normal. Onde não existe discernimento, não existe hierarquização de valores (o sentimento toma conta e a razão é escanteado). Não mais se fala em valorização. Todos são iguais, pois o mérito é relativizado através dos privilégios supostamente acumulados, ou seja, sem mérito entramos na sociedade sem classe de Rousseau, contudo outras classes irão surgir. As pessoas perderam a noção da realidade e o que prevalece atualmente é a desvalorização. Como exemplo, podemos comentar os relacionamentos sem amor, sem emoção, sem ousadia, sem dignidade, sem comprometimento. Os casais não mais se amam, não alimentam a chama da paixão, da compreensão, do respeito. A falta de comunicação clara, objetiva não mais existe. O próprio Theodore Dalrymple comenta que esse choque da soma do sentimentalismo e futilidade gera as mais perversas relações, onde prevalece o esteticismo e o hedonismo. É complicado perceber que o sentimentalismo toma conta, ao mesmo tempo que os sentimentos mais fúteis, como prazer, são os mais exaltados, pois o edifício de valores está atendendo à narrativas.



As narrativas tomam lugar de destaque na sociedade, principalmente na academia. Enquanto aqui estamos valorizando cada vez mais a área acadêmica de ciências humanas, os cursos universitários mais concorridos nos EUA e na Europa são de Business/ Management/Tecnology. Nossas escolas são intoxicadas com diversos discursos enroupados de narrativas de "cunho social", por exemplo, ideologia de gênero ou discussões sobre saber se mulher branca usar turbante é apropriação cultural. São discussões que, embora sejam consideráveis, simplesmente não ajudam a desenvolver um país onde 70% da população é analfabeta funcional. Países desenvolvidos ensinam os seus jovens a ler e interpretar, assunto evidentemente defeituoso no Brasil. Ensinam sobre Inteligência Artificial, Big Data, Globalização, mas no Brasil estamos presos em discussões que não tem relevância econômica. É claro que nem tudo é dinheiro, mas a história mostra que só é possível o crescimento de uma nação com saúde financeira. O resultado é que, pela ignorância gerada, nossos jovens crescem acreditando que salário é uma benevolência do empregador e não uma função da produtividade e da sua disposição de assumir riscos. Com isso, creem que o fato de não conseguirem comprar coisas é porque as empresas não querem dar remunerações altas, quando a realidade é que nossos jovens são menos capacitados que chimpanzés de laboratório. É claro, o adolescente que se formou no ensino médio sem saber a tabuada nem conseguir interpretar um artigo acadêmico não tem outra chance na vida a não ser fazer vestibular de Ciências Sociais na Unisquina ou qualquer outra coisa do tipo. Não que não possam ter profissões dignas, mas não geram valor econômico. Sobretudo por estarmos já saturados de profissionais desse mesmo perfil que, como num magnífico esquema de pirâmide, vão trabalhar ensinando mais jovens a entrarem nessas profissões e perpetuar o ciclo de termos um país que não produz tecnologia, mas repleto de sociólogos. Toda regra possui exceção,  porém a exceção que são nossos melhores engenheiros, administradores e profissionais de tecnologia, estão saindo do Brasil em ritmo acelerado. É uma equação simples: o tempo de um aluno é limitado. Quanto mais horas ele passa aprendendo sobre diversidade cultural, menos horas ele passa aprendendo sobre matemática, literatura, física, etc. Como consequência, quando chegam no mercado de trabalho, os jovens descobrem que o resto do mundo não se importa com os dois maiores produtos brasileiros: textão no Facebook e vídeos motivacionais. Ninguém lá fora está interessado em debater se devemos usar "x" no final de palavras com dois gêneros, muito menos em acampar no frio para apoiar criminosos condenados. No primeiro mundo, as pessoas só pensam em uma coisa: produzir. Produção gera riqueza, gera igualdade, reduz a violência e, em última instância, traz mais diversidade social do que de fato ensinar diversidade nas escolas.

Toda essa questão educacional tem base na pedagogia de Rousseau, no seu "Emílio". Também tem inspiração nas obras de Foucault, Derrida, Bourdieu, Marx, etc. Para Rousseau, a educação começa pelo desenvolvimento das sensações, dos sentimentos, até que Emílio chega por si próprio às noções de bem e mal e à concepção religiosa, já que tratar de religião antes do desenvolvimento suficiente da razão é correr o risco da idolatria. O Objetivo da educação é a reconstrução de um homem social participante de uma sociedade racional que respeite a natureza. 

Emílio chega por si próprio às noções de bem e mal?

Na prática tivemos um escalonamento de violência. Bandido virou vítima e a vítima virou culpada. Culpada por ter privilégios... Que privilégios? Trabalhar para comprar seus bens é privilégio? O bandido virou vítima porque o "culto romântico da sensibilidade concedeu autoridade moral ao sofredor". Toda essa sensibilidade aguçada e nada sutil faz o perverso encorpar. Toda essa narrativa criou um striptease moral naqueles que acreditam em valores, pois os mesmos estão relativizados. A situação está tão sórdida que alguns defendem matar em nome da paz, esfaqueiam em nome do amor, metralham em nome da igualdade e geram fome e miséria por uma justiça social. Temos estudantes glorificando isso ao apoiar Maduro! Temos estudantes matando cinegrafistas, cobrindo seus rostos em nome da "igualdade"... Cobrem por vergonha ou sabem que fazem o errado, porém o errado se torna relativo dentro de seus grupos. Quanto mais jovem for, mais imerso no esteticismo estará e mais sucetíveis a narrativas estarão. O jovem tentará ser aceito no seu grupo, ganhar um Like no mundo real ou no virtual. Terá dificuldades para transitar para segunda fase do existencialismo de Kierkegaard.

"Vivemos numa época em que a sociedade louva crianças que são sexualmente maduras e homens que choram e agem como crianças. É uma inversão demoníaca da natureza humana. Esta corrupção tem se tornado cada vez mais intensa; chegará o momento em que ninguém conseguirá distinguir o minimamente certo do maximamente errado. Tudo será (contraditoriamente) nivelado. Crianças serão consideradas adultas, adultos serão considerados crianças, idosos tentarão agir como adolescentes, adolescentes serão ouvidos como se fossem sábios.

Adolescentes não nasceram para ser contrariados. Crianças são contrariadas. Adolescentes devem ser silenciados. Mais ou menos como faziam os pitagóricos com os principiantes: um ano de silêncio para aprenderem a escutar. Dar voz à juventude é estimular a estupidez. Como disse o Olavo de Carvalho: 'São sempre os jovens que estão um passo à frente na direção do pior'".  (Página do Facebbok - Seymour Glass)

Toda essa inversão de valores remete ao Governo de Multidões, onde a ausência de educação é fundamental para sua consagração. Essa consagração irracional alude situações recentes como taxar um juiz de caráter ilibado de grande vilão do Brasil e conspirador internacional ou falar que político condenado por corrupção é possuidor de honestidade inquestionável. Contudo, o pior é ter candidato a presidência esfaqueado e sendo acusado de culpado pelo próprio atentado ou ter uma parlamentar assassinada por aqueles que juraram proteger os cidadãos, mas que agora usam das narrativas da mesma parlamentar para amenizar sua culpa, já que, afinal, "todos são frutos do sistema" e as escolhas não possuem responsabilidades devido ao sistema determinista. 

Rui Barbosa disse: 

"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto."

Essa frase nunca foi tão gritante! Com a inversão de valores que vivemos, o "ser malandro" é o virtuoso. Romantizações e glamourizações são elaboradas a todo momento. Nunca foi tão certo ser errado. Contudo, segundo Viktor Frankl, "O ser humano não é completamente condicionado e definido. Ele define a si próprio seja cedendo às circunstâncias, seja se insurgindo diante delas. Em outras palavras, o ser humano é, essencialmente, dotado de livre-arbítrio. Ele não existe simplesmente, mas sempre decide como será sua existência, o que ele se tornará no momento seguinte." e diz ainda, "Existem sobre a terra duas raças humanas e realmente apenas essas duas: os decentes e os indecentes". Portanto não existe relativização do certo e do errado, pois você é dono de suas escolhas, já que nossa principal característica, enquanto humanos, é poder pensar para viver. A cada segundo infinitos caminhos se apresentam diante de nós e cada caminho é uma história, tem um significado e, sobretudo, é a consequência da adoção de um valor. Ao comparar os caminhos, elegemos qual o melhor a seguir, ainda assim esse caminho deve passar pelo exame de moralidade. Nesse exame usamos a nossa hierarquia de valores que adquirimos aprendendo, cultivando e discutindo, moldando o edifício moral da nossa existência. Não conseguimos hierarquizar valores sem autocontrole, se rendendo ao sentimento e ao subjetivo. Assim o edifício moral não se ergue e nossa ética fica moldada na consequência, ou melhor, no maquiavelismo.

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