A HUMANIDADE PRECISA DE REGRAS


A ORDEM E O CAOS COABITAM O IMAGINÁRIO




      O símbolo taoista Yin Yang é o perfeito para exemplificar que a ordem e o caos coabitam o universo e que, em ambos espectros, a transformação é eminente devido às sementes germinado dentro dos conceitos. Os conceitos aristotélicos de ordem e caos foram usados por São Tomas de Aquino com o objetivo de explicar que o ato de temer a Deus seria a ordem e o contrário o caos. A ordem seria a Eudaimonia para Aristóteles, ou seja, segundo ele, a eudaimonia consiste na atividade do espírito, mediante o conhecimento da verdade, atividade essa conforme a natureza do mesmo espírito e de acordo com a sua teleologia. O prazer e a alegria são somente um eco da perfeição alcançada. Afora isso, a atitude moral virtuosa constitui um elemento essencial da felicidade, a qual, quanto ao mais, é concebida exclusivamente dentro do âmbito terreno. Já São Tomás de Aquino aplicou o conceito de eudaimonia ao fim último da visão beatificante de Deus, fim que nos é dado a conhecer pela revelação. O puro eudemonismo, que vê o fim da vida humana unicamente numa satisfação concebida de maneira não teleológica, é superado pela ideia da perfeição interna da personalidade, alcançável somente na posse de Deus por meio do conhecimento, do amor, da santidade perfeita e do gozo. A doutrina cristã, com maior precisão, distingue uma felicidade natural, correspondente às capacidades e tendências da natureza espiritual, e outra sobrenatural, que, na ordem efetiva, constitui por si só o destino do homem e consiste na contemplação da Santíssima Trindade. A Teogonia, ou Genealogia dos Deuses, também nos passa a noção de ordem e caos e surgimento dos mitos de heróis que povoam nossas mentes e nosso cotidiano. Quem nunca torceu pelo herói ou pelo vilão, dependendo do contexto?


        Conforme Aristóteles afirma na mesma obra, Ética à Nicômaco, o virtuoso é o equilíbrio. Com isso, algumas teorias sobre ordem e caos vão surgir. Mas o que precisamos tirar disso é que o excesso de caos gera o colapso levando a destruição e a ruptura. Já o excesso de ordem gera o controle absoluto levando a opressão. Em ambos os casos as liberdades são retiradas. O primeiro, o caos, retira a liberdade pelo medo, o segundo, a ordem, retira através de dispositivos controladores. Percebam que qualquer espectro político repudia o caos e adota a ordem, porém só um usa o caos como ferramenta de transformação, já que do caos surge a ordem. Entre o caos e a ordem existe uma zona comum de onde sai a inovação, a criatividade, a prudência, a precaução, o ceticismo, etc. Logo a necessidade de regras existe para colocar limites e apresentar até onde vão os conceitos de ordem e caos.

        Temos muitas regras de fato. Somos totalmente ambivalentes em relação às regras. Contudo elas são necessárias. Partindo da ideia que somos formados individualmente através de nossas experiências e racionalidade, por que precisamos de regras gerais que limitam o nosso livre arbítrio? Podemos então começar com uma análise filosófica da Bíblia. Moisés desce da montanha com 10 mandamentos, não com "sugestões". Ele percebeu que seu povo estava em festa, num cenário desregrado onde as pessoas eram escravas de suas paixões e seus desejos (aqui alguns vão falar em qualidade de vida, diversão e outras coisas como uso de drogas e afins, contudo lembramos do equilíbrio). Logo, as regras mosaicas pretendiam afastar o povo do apego as paixões, os vícios e dos mais sórdidos desejos em nome da ordem. Podemos também comentar sobre o socialismo utópico de Fourier. Para ele, que faz uma conexão entre divino e sociedade, a prova da existência de Deus é uma felicidade conjunta. Amar livremente! Dentro desse escopo, cabe uma analogia com o episódio bíblico mosaico, onde o ponto comum é o imoralismo amoroso. Escreve Fourier: "é impossível crer que Deus tenha criado a mais bela das paixões para reprimi-la, comprimi-la, oprimi-la segundo a vontade dos legisladores". (Isso te lembra algum discurso ideológico atual?). Portanto num contexto sociológico utópico, as regras são afastadas em nome do "mais amor, por favor!"; "só o amor importa"; "qualquer forma de amor é natural". (Essa última é um convite informal à pedofilia, consequentemente, um fomento ao estupro).




       Ficou evidente a necessidade de regras para limitar as interpretações e afastar o relativismo e tornar a ética mais objetiva, ou seja, trazer a ordem. Assim algumas regras são necessárias para evitar a escravidão nas paixões (o caos - não há nada de libertador em ser escravos de desejos e vontades. Atualmente os desejos e vontades são estimulados nas crianças, segundo Theodore Dalrymple). Sem supervisão e deixados por conta da nosso próprio julgamento, seremos rápidos em almejar pouco e louvaremos qualidades abaixo de nós. Tal forma de pensar nos faz compreender o porquê de movimentos feministas e LGBT serem mais propensos à políticas coletivistas. O contrário - políticas individualistas - sugere um julgamento moral mais relevante e elevado. Ou seja, precisamos de um comportamento civilizado na ausência de regras que buscam elevar nossos padrões, contudo só poderemos ter tal perspectiva quando individualizado. No coletivo a tendência é o comportamento e a moralidade serem ditados pelo grupo. Desta forma entendemos os aplausos e vibrações entusiasmadas quando alguém introduz um crucifixo no ânus. Não pretendemos aqui questionar a necessidade de determinados movimentos, mas exemplificar a necessidade de regras morais de todos os lados, apenas ilustrando com exemplos onde o coletivismo força regras indesejáveis e contrárias a individualidade já que afastam a possibilidade de se contrariar as regras do grupo. Uma vida simples, plena e livre é o objetivo de todos, mas não existe tal condição sem regras.

      Aqui é um ponto de inflexão do texto. Muitos progressistas já não querem ler mais e já pensamento em rótulos para minha pessoa, mas levanto a questão: Será o "politicamente correto" uma regra a ser imposto de um grupo para um indivíduo? Será isso uma contrariedade à regra "diga o que pensa"? Ou, "seja você mesmo"? Indo além, será que a projeção de tal regra (politicamente correto) não molda os debates em nome do coletivo? Anteriormente, colocamos o entendimento que somos formados individualmente através de nossas experiências e nacionalidade, portanto o "politicamente correto" inibe, ou limita, a racionalidade. Limita a franqueza e impede as explosões de verdade. Assim a maquiagem frente aos fatos torna-se corriqueira. Colocamos na nossa página um vídeo de um pai mandando uma criança, aparentemente seu filho de 3 anos, tacar pedras num soldado israelense. Ficou nítido o objetivo do pai... Também percebemos apoio de feministas ao comportamento de submissão de mulheres islâmicas, ou ainda a absurda ideia de defender pedofilia em nome do descobrimento sexual da criança. Será que isso tudo não seria obra do "politicamente correto" e das regras coletivistas? Voltemos a Moisés, ele voltou com mandamentos ou sugestões?

         Apesar de existirem dúvidas sobre quais regras devem ser seguidas, penso que as de maior efetividade sejam as que tratam do indivíduo, assim como as de Moisés. Criar regras com base no deducionismo, é criar exageros no controle, lembrando que regras individualistas estabelecem a liberdade nas interações entre indivíduos, já a coletiva é a prisão no grupo. O exemplo que vem a cabeça neste momento do texto é a forma de Mao (na Revolução Chinesa) colocava os trabalhadores chineses um contra o outro, depois de um dia de trabalho, solicitando aos trabalhadores que apontassem quem não trabalhou bem naquele dia para executar. Mas o que é trabalhar bem? Ouvi um Podcast (o "Anti-cast", um porcaria por sinal) dizendo que durante a Revolução Russa, quem não queria fazer trabalhos voluntários ou quem fazia corpo mole é considerado apenas "um babaca". Recomendaria Sussurros, do Orlando Figes e Arquipélago Gulag, do Solzhenitsyn, para realmente saber sobre a vida privada dos Russos no período. Será que a individualidade das condições físicas e mentais de cada trabalhador, mesmo que seja por um dia nos dois episódios históricos, eram irrelevantes para esse julgamento ou apenas tinha relevância a produtividade frente ao coletivo? Percebe como a regra coletivo não se importa com você?


         Todos temos que lidar com o caos e não podemos transferir essa responsabilidade para grupos, líderes ou o Estado. O desconhecido deve ser enfrentado afastando o caos e buscando a ordem. Ao afastarmos a responsabilidade, seremos suscetíveis as regras coletivas controladoras, já que o detentor da responsabilidade também será o da escolha. Por esse motivo é difícil fazer um jovem perceber que liberdade trás responsabilidade, já que vivemos num pais cuja atmosfera só se refere a direitos com responsabilidades estatais. Destarte o detentor da responsabilidade usa a ideologia. "Ideologias são ideias simples, disfarçadas de ciência ou filosofia, que pretendem explicar a complexidade do mundo e oferecer soluções para aperfeiçoá-lo". Os ideólogos são pessoas que fingem saber como "fazer um mundo melhor"antes de organizarem o próprio caos interior. (A identidade de guerreiro outorgada por sua ideologia encobre o caos.) Quando alguém percebe tal premissa compreende que, apesar dos problemas orgânicos, o "guerreiro" sempre busca uma suposta causa maior, ou seja, não importa sua sujeira, mas criticar outros que estão sujos (as vezes da mesma lama). 
   
         "As ideologias substituem o conhecimento verdadeiro - o da experiência - e os ideólogos são sempre perigoso quando ganham poder, pois um comportamento simplista e sabe-tudo não é páreo para a complexidade da existência. Além disso, quando suas engenhocas sociais não funcionam, os ideólogos não culpam a si mesmo, mas a todos que desmascaram suas simplificações". (Venezuela culpando a baixa do Petróleo e Maduro dizendo que não tem culpa; Lava-Jato ganha a culpa pela queda da economia; e agora qualquer atribuição de culpa vai para "onda conservadora"). Assim todos os ideólogos relativista ativistas caem quando confrontados com a realidade. Risque um carro de um professor relativista ou assalte a casa dele que seu manto moralista apodrece. Pedir fim da polícia com escolta policial...

           Geralmente esses ideólogos e ativistas são exemplos para jovens. Atualmente as pessoas estão carentes de regras e exemplos práticos e reais. Tal fato corresponde que, para eles, a moralidade é relativa. Ou seja, não há certo ou errado absoluto. Assim a "moralidade e as regras associadas a ela são apenas uma questão de opinião ou casualidade pessoal". Sendo assim ficam a mercê de uma estrutura específica como etnicidades, a criação ou a cultura e o momento histórico nos quais cada um nasce. Nada alem de um acidente de nascimento. Hoje, determinados grupos progressistas alegam que a moralidade de cada grupo não é "nada além" da tentativa de exercer poder sobre outro. Consequentemente, para eles, o mais decente a ser feito é demonstrar tolerância com as pessoas que não vivem ou compartilham das mesmas regras que você, já que a regra moral é uma estrutura para exercer poder. Assim torna-se ofensivo alguém que tenha julgamento de valor pessoal. Exemplo claro foi a mãe policial em defender seu filho e sai, indiretamente outros. Em nenhum momento as críticas quanto a iniciativa do bandido foi questionada, mas as possíveis causas relativas a sua condição de estar ali. Inclusive desconsideram a livre escolha e vontade, bem como seu julgamento pessoal de valor de certo ou errado de querer cometer um assalto à mão armada. Sendo assim precisamos de algo externo a regra para saber diferenciar o certo do errado, neste caso entre a ideologia sem nenhuma virtude. Hoje a palavra virtude é cafona, esta desatualizada devido ao fato da ignorância forçada da "sabedoria prática". Tudo deve ser cientificado e chancelado por especialistas (vários especialistas opinaram no caso da mãe policial, é seguro e pacífico que nenhum deles passou por treinamento prático de abordagem, autodefesa ou qualquer treinamento sobre segurança, ou seja, nenhum tem sabedoria prática). Assim os especialistas carimbam regras de outros para você! 

       Aristóteles condena o vício como comportamento menos favorável a felicidade, mas como vivemos na teoria do acidente de pensamento, o relativismo ajuda criar regras que promovem e romantizam vícios. Ética à Nicômaco foi baseado em experiência e observação, não em conjecturas. Assim tanto a realidade e o verdadeiro são relativos para quem não tem o virtuoso ou a virtude como meta de felicidade. O mais grotesco é acreditar que o mais próximo da "virtude" é a "tolerância". Ou seja, o mais virtuoso é o mais tolerante (ou relativista) ou aquele que é averso a regras objetivas. Então aquele que se autointitula mais tolerante acredita ser o mais virtuoso, porém não existe virtude nisso, mas autopromoção. Dessa forma o "intolerante" não é simplesmente errado, mas grosseiro e até perigoso (intolerante, no caso, é aquele que segue uma regra não relativizada). Contudo, na realidade muitas pessoas "não conseguem tolerar o vácuo o caos - inerente à vida, mas que ficou pior por esse relativismo moral; elas não conseguem viver sem uma bússola moral (...) Então, ao lado do relativismo moral: a certeza cega oferecida pelas ideologias que alegam ter resposta para tudo.".

        Atualmente os jovens (massa de manobra de movimentos) são bombardeados com ataques ideológicos, onde o relativista o preenche de incerteza, o ideólogo oposto. Ele é super preconceituoso (são os que mais chamam outros de preconceituosos - um "Ódio do Bem") e crítico, sempre sabe o que esta errado nos outros e como resolver. O "valor" é secundário por ser pessoal, para os jovens. O que vale são os fatos (descolados da de valores e realidade), pois, supostamente, são objetivos e "reais" (será que aqui entra as agencias fact-checking do Facebook? Elas irão moldar a realidade de acordo com suas aspirações deturpando fatos). Tal coisa é desumana a ponto de ignorar raízes ancestrais de valores éticos de cada um, ou melhor, só é valoroso aquilo que A ou B diz para você, desconsiderando a natureza humana de investigar questões para o aprofundamento, partindo da premissa que as pessoas têm ideias diferentes e particulares. A compreensão do homem deve vir da naturalidade, quer dizer, o que os remete ao comum de forma primitiva. No meu ponto de vista, os progressistas são atormentados quanto ao diferente e sentem a necessidade de igualar tudo e todos através de regras que, inclusive, exaltam diferenças. Como o caso de cotas de universidades com tribunais raciais (fica claro que o tribunal é racista, porém rotulado como um racismo do bem, ou apenas um simples filtro racial).

          É intrínseco do homem a preocupação com a moralidade, tão é que criamos estruturas de leis e regras onde quer que estejamos, logo sempre estamos flertando com a ordem evitando o caos. A ideia de que a vida humana pode ser livre de preocupações morais é fantasiosa. Se tal liberdade fosse concreta, só existiria a transferência dessa preocupação para alguém, seja um líder, uma assembleia ou o Estado, mas não. Queremos participar dos processos, das escolhas. Precisamos de regras, caso contrário o caos reinará.

         Portanto a regra é um processo de transformação. Através dela percebemos a forma de governar a sociedade. A regra deve levar em consideração a capacidade do indivíduo em fazer o mal, principalmente o mal em nome do bem. Logo o pensamento deve ir além do simplismo, além de direita e esquerda e qualquer concepção política. Isto posto, histórias mitológicas são contadas para ajudar no enfrentamento do caos, sem generalização ou deducionismo. Com deducionismo e generalização não saberemos o que realmente enfrentamos. A regra deve atingir a forma mais simples da humanidade, o indivíduo.

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