A POLÍTICA DAS TESOURAS

COMO PT E PSDB DIVIDEM O PODER



            Por muito tempo ouvimos teorias sobre pactos e conspirações sobre a divisão do poder entre PT e PSDB. Para tornar nosso texto claro, precisamos primeiro partir do pressuposto que os dois partidos compartilham da mesma ideologia política, o socialismo. O socialismo democrático ou a social-democracia surge para contrariar as formas autoritárias de implementação do socialismo. Tal fato pode ser observador pelo mundo, inclusive, atualmente, os países mais socialistas são aqueles onde possuem mais autoritarismo. Outro aspecto também interessante é que a social-democracia é uma evolução quanto ao socialismo puritano, pois a social-democracia acredita em intervenções dentro do capitalismo para trazer a "justiça social". De forma sintética, a social-democracia é a transição para o socialismo sem Revolução. O símbolo da social-democracia é a rosa vermelho. Inclusive o PDT brasileiro usa uma variante deste símbolo. Após a Segunda Guerra, vários países tiveram, e ainda tem, a presença da social-democracia. A mesma se apresenta como "Terceira Via", deixando assim a dicotomia direita e esquerda e se aproximando do Centro. Ou seja, social-democracia encontra-se, no geral, no espectro de centro-esquerda. No Brasil, PSDB, PSD e PSB são exemplos de representantes desta ideologia, em tese. O PSDB só não participou da Internacional Socialista porque foi acusada, por Leonel Brizola, por associação ao PFL para Governar. Muitos bons analistas políticos estão perdidos hoje porque não temos mais aquela oposição que moldou o Brasil nas últimas eleições.



           
           De fato, um movimento revolucionário se subdivide. No caso brasileiro o movimento gerado contra o Regime Militar arrebanhou todo o grupo que estava unido naquele momento. Não é difícil achar fotos e textos sobre a aproximação de Lula e FHC durante a "luta pela democracia". Tanto é que tal fato pode ser comprovado pelas disputas de espaço nas Universidades brasileiras. É evidente que os dois partidos apresentam competição política, mas isso já era de se esperar compreendendo um pouco sobre Hegel e até Carl Schmitt quando o mesmo afirma: "A distinção política específica à qual os atos e motivações políticos podem ser reduzidos é a distinção entre amigo e inimigo.". No livro Mente Imprudente do progressista Prof. Mark Lilla, o mesmo faz a seguinte afirmação: "O inimigo a que ele [Shcmitt] se refere é um inimigo público, e não privado; para Schmitt, uma coletividade é um organismo político apenas na medida em que tenha inimigos.". Desde Hobbes, a maior parte dos pensadores políticos fazem associações entre guerra e colapso da política saudável, contudo Schmitt apresenta um contraste e acredita que tudo é potencialmente político, pois tudo - moral, religião, economia, artes - pode torna-se uma questão política, um encontro com um inimigo, transformando-se numa fonte de conflito. Apesar dessa teoria ser uma suposição antropológica, ela faz sentido em diversos casos, analisando o ponto de vista histórico.



           Agora considerando os aspectos brasileiros, fica mais fácil entender o porquê dos conflitos políticos entre PT e PSDB. Os dois partidos possuem a mesma essência filosófica política, onde o socialismo é levado em conta, apesar de ser mais velado no PSDB, já que não tem caráter revolucionário. Porém, no dia 02 de dezembro de 2017, no Instituto Teotônio Vilela, o Grupo "PSDB Esquerda Pra Valer" participou de uma evento chamado "Manifesto de Convergências pela Democracia e Direitos Humanos". Se eu não contasse que esse evento era do PSDB, com certeza você leitor poderia ficar em dúvida se este evento seria realmente dos tucanos, afinal seu título mais parece algum evento com Marcelo Freixo. O evento tinha o objetivo de articular a esquerda nacional contra a "Onda Conservadora". Aquela mesma que FHC tanto critica e tem medo. Foram convocados representantes do PSB, da REDE, do PV, do PPS, do PDT, do PSOL e do PT. (http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,grupo-de-esquerda-do-psdb-convida-pt-psd-psb-pps-e-pv-para-evento-sobre-democracia,70002100191). Cabe ressaltar que o evento contou com as principais lideranças do PSDB, entre elas, José Serra, FHC, Gelado Alckmin (aquele que se vende como conservador), José Anibal e Alberto Goldman. Sinceramente eu nem sei qual foi o resultado disso, muito menos as lideranças que participaram, mas tal evento só mostrou uma coisa, estão preocupados em perder a hegemonia do discurso. Preocupados em perder o poder, para ser exato. E onde entra o PMDB nisso tudo? Ele é o partido que apoia a situação, que ratifica as políticas que serem aplicadas, afinal todos ali gostam do poder nas mãos.
               
             Todo esse evento era para lançar um Manifesto suprapartidário com o objetivo de balizar as políticas que deveriam ser implementadas para conseguir alcançar os anseios da esquerda nacional. O manifesto também contaria com assuntos internacionais tipo o Brexit, a política de Donald Trump e até políticas migratórias sobre o Brasil. Pergunto: Onde entra o povo nisso tudo? Para os organizadores e os participantes dessa articulação, “democracia” consiste em privar a maioria absoluta dos brasileiros de representação política, de ingresso nos debates intelectuais e de espaço na “grande mídia”.



         O que é bem estranho é que, após esse evento, os políticos do PSDB não estavam mais "atacando" Lula e o PT mediante provas, prisões e condenações na Lava-Jato. Algo que para um partido de "oposição" que poderia se valer do momento político para atacar a ideologia e seu principal adversário político, seria um prato cheio. Pensar dessa forma é encarar a realidade de forma mentirosa, até porque Vladimir Netto afirma no seu livro sobre a Lava-Jato que, algumas vezes, Paulo Roberto Costa também era procurado por políticos do PSDB para conseguir dinheiro de propina. A finalidade (seja para eleições ou não) não importa, o que importa realmente é o caráter ilícito da situação. Paulo Roberto afirmou que era procurado por políticos do PT, PMDB, PSB, PP e PSDB. Já repararam no PSB de Eduardo Campos? Esta, aos poucos, dando a cara. Não é a toa que a morte de Eduardo está sendo investigada até hoje. As últimas notícias sobre o caso mostram que a família contratou peritos que alegam sabotagem em um dos sensores da aeronave. Voltando a Lava-Jato, alguns levantamentos apontam que PT, PMDB e PSDB foram os partidos que mais receberam dinheiro das empreiteiras envolvidas. Cerca de R$ 131 mi ao PT, R$ 68 mi ao PMDB e R$ 64 mi ao PSDB. De novo o PSB se apresenta como "força política" (para mim é só mais um grupo de corruptos). O partido ganhou cerca de R$ 21,5 mi. Seguindo temos DEM, PP, PR, PSD... Emílio Alves Odebrecht, em um de seus depoimentos, disse que todo o esquema começou depois do Governo Militar. Ou seja, voltamos ao ponto inicial da questão onde FHC e Lula estavam unidos contra o Regime Militar.



             O PT e o PSDB saíram do mesmo grupos de intelectuais da USP. Ali definiu-se a estratégia de poder político. Enquanto um estava engajado na guerrilha, o outro se engajou em ações culturais gramscistas e em adquirir apoio do mercado financeiro. Tal ideia se comprova pela falta de ação, ou omissão melhor dizendo, de FHC frente a determinados acontecimentos, por exemplo o MST,  e nas ações de enfraquecimento dos militares, primeiras reuniões com Chavez e Fidel, liberação de verbas públicas para ONG... As subdivisões não pararam por ai, temos mecanismos dialéticos que geraram mais partidos, porém de mesma essência. Enquanto isso a intelectualidade de Direita minguava diante da sombra do Governo Militar. Assim todo esse questionamento público e ideológico gera pavor para esses grupos, pois eles não têm identidade partidária. Quando usamos uma dialética hegeliana, não temos a antítese. Assim fica desconfortável para eles que alguém explica algo, sendo que eles se acostumaram em explicar o que é o "certo", ou seja, o domínio da narrativa vem sendo perdido. Não são mais donos da virtude. Acho que fica claro aqui a influência da mídia e que esse questionamento começou e se intensifica com o uso das Redes Sociais, já que não tiveram essa previsibilidade. Inclusive o fundador do Facebook esta sendo questionado sobre censuras à postagens de Conservadores, bem como o banimento de páginas de mesmo cunho. Mark Zuckerberg foi questionado sobre tal fato e o mesmo disse que o procedimento era banir discurso de ódio. Pergunto: "Quem adora essa narrativa de discurso de ódio?". Contudo o CEO não contava com a pergunta: "Você saberia definir Discurso de Ódio?". Claro que não sabe e não soube, talvez não saiba o que é até hoje...


            Essa relação entre PT e PSDB é bastante estranha e acredito que tal coisa seja alvo de dúvidas e até de que exista qualquer teoria sobre união entre os partidos, o que de fato não existe. Mas peço para relembrarem o que Carl Schmitt pensava sobre inimigos públicos e privados. FHC nunca teve reciprocidade de Lula. Apesar do Socialista Tucano sempre defender Lula, o que de fato foi provado ao não pedido de impeachment no Mensalão, Lula nunca se expressou da mesma forma. Rodrigo Constantino comenta no seu Blog na Gazeta do Povo:

"No caso das relações entre FHC e Lula, salvo a exceção que apontarei adiante, tal guerra foi claramente unilateral. Lula atacava e FHC sequer se defendia. Lula rosnava e FHC sorria. Petistas fizeram dos tucanos seus adversários preferidos e o inverso nunca foi muito verdadeiro. Se examinarmos bem o ocorrido durante os mandatos de ambos, veremos que FHC, com Lula na oposição, prestava enorme atenção ao que o PT dizia. Quando a situação se inverteu, viu-se que Lula, diferentemente, se lixava para o próprio partido e para FHC. No caráter unívoco da relação entre ambos percebo esta solitária exceção: em seu primeiro mandato, Lula preservou e até ampliou por algum tempo as principais diretrizes econômicas e sociais do programa tucano."

             Ressalto essa segunda parte, pois Lula manteve toda equipe econômica de segundo escalão de FHC. Continuando assim a política financeira que fez o Brasil viver um período prospero, contudo só desandou quanto políticas genuinamente e exageradamente intervencionista foram tomadas, não que as políticas de FHC não fossem, porém o país vinha de um intervencionismo forte e as privatizações animaram o mercado, sem mencionar o controle da inflação. O petismo e Lula sempre foram vistos por FHC como parte do subproduto do seu projeto para o Brasil, conforme falado acima, uma subdivisão da causa maior. A relação dos dois partidos é recheada de intrigas palacianas shakespearianas. Lula queria ser FHC e FHC queria ser Lula. Lula é constrangido pela superioridade intelectual do seu adversário, assim como FHC se constrange em ser superior (elite) intelectualmente e não ter sido um líder da envergadura de Lula. Apesar de quatro derrotas para o PT, FHC nunca deixou de apoiar Lula. 



              Para alguns essa relação foi concretizado por um pacto. O Pacto de Princeton. Em janeiro de 1993, em Princeton, Lula e FHC teriam estabelecido um acordo utilizando-se de tal estratégia. Se isso é verdade ou não, é difícil julgar, porém, no Brasil, a esquerda vem se alternando no poder há tempos. Um partido populista destrói o país e um outro partido arrocha o povo, e o ciclo se repete. Mas a ideologia deles é a mesma, e defendem as mesmíssimas bandeiras: feminismo, cota racial, ideologia de gênero, aborto, doutrinação nas universidades e nas escolas... Ou seja, todo processo de doutrinação permanece o mesmo e torna-se cada vez mais evidente quando não conseguem dominar as narrativas e quando seu discurso desmorona a luz de fatos. No final o povo é sempre tratado como Gado. O que também é de difícil entender é a relação protetora de FHC. Como já mencionado, sem a política e a força de FHC junto ao partido, o PSDB teria protocolado pedido de impeachment contra Lula no caso de Mensalão, bem como o PT já teria seu registro cassado. Contudo também é difícil entender como ninguém do PSDB ainda não foi preso, mesmo tendo Foro Privilegiado, já que PT, PMDB e PSDB se juntaram para barrar o afastamento do Senador Aécio Neves (http://www.pt.org.br/com-apoio-do-pt-senado-adia-votacao-sobre-aecio-neves/). Lógico que existe interesses mútuos, o que me faz pensar que socialista não tem acordo com pessoas devido as forças de interesse, a causa em si, ao partido e, principalmente, a ideologia. Lula é um símbolo, toda decisão é tomada pelo partido. Muitos relatos apresentam Lula apenas como o instrumento para colocar as decisões em prática. Por tal motivo, reforça a ideia, particular, que não exista tal pacto. É muito poder em jogo, o que gera riqueza e manutenção do poder. No próprio livro já comentado da Lava-Jato, o autor revela que em todas as operações na Petrobras o PT ganhava 2/3 dos 3% das propinas. Dinheiro público. Qual partido político hoje, na situação de corrupção institucionalizada que vivemos, iria descartar tal boquinha?


        No final temos uma definição engraçada: O PSDB é o PT mais intelectualizado, ou não. Enquanto um tenta esconder a imagem de socialista, o outro faz questão de mostrar. Enquanto o primeiro se apresenta como via que agrada gregos e troianos, o outro tem gregos fingindo que são troianos. A elite que um diz ser, não chega perto da elite que é o outro. Já imaginou o Clube do Leblon votando no PSDB? Mas você já viu Ciro, hoje PDT (o da rosa), no PSDB e flertando com o PT.


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