PANTERA NEGRA - O CONSERVADORISMO VENCE O REVOLUCIONÁRIO

VISÃO IDEOLÓGICA DO FILME PANTERA NEGRA DA MARVEL

ATENÇÃO - CONTEM SPOILER

       Assisti o filme novo da Marvel, Pantera Negra. Disparado, para mim, foi o melhor filme da Marvel. Deu um chute no Star Wars e seu contexto politicamente correto. Tentarei fazer uma análise sobre os aspectos político, religioso e social no contexto do filme. Diferentemente do último Star Wars onde Luke Skywalker é abordado duvidosamente como bom ou mal, Pantera Negra é totalmente diferente e expurga o politicamente correto. Para ter uma idéia, não tivemos nenhum Grupo reclamando sobre a quantidade de brancos estrelando no filme, porque é óbvio quando existe qualidade e competência, esses fatores são comprovadamente irrelevantes. A preocupação deve ser com mimesis da arte. Contudo alguns fanáticos reclamaram sobre a falta de homossexuais no filme outros chegaram ao ponto de dizer que não tinham negros entre dubladores. Parece doença achar que tudo deve ter uma representatividade, assim como fizeram no filme da Mulher Maravilha. Nossa civilização atual está tão carente de exemplos que as pessoas querem sentir tal representatividade nos heróis sexagenários, revisionando toda sua história para atender as demandas gerada por sentimentos de grupelhos. Sentimentos que por muitas vezes são criados pela repressão de vontades, desejos e paixões desses grupelhos, ou seja, o fato de não mimá-los.

          Comecemos pelo aspecto político do filme. O filme se passa num país africano cuja a sociedade  é tribal, contudo sua tradição leva a escolha do Monarca através de uma disputa física entre o herdeiro do trono e algum representante das cinco tribos que formam a comunidade, além da possibilidade de outra pessoa com sangue real. O representante pode ser qualquer um. O processo é respeitado e o filme apresenta esse modelo surgindo de uma guerra tribal onde um líder dentro das tribos se sobre sai devido aos poderes recebidos através de uma erva (ou semente) divina. Cada tribo tem um nicho dentro da sociedade e seus mais altos representantes fazem parte de uma espécie de conselho do Rei. Apenas uma das tribos não participa de tal conselho por escolha e por não aceitar esse método, contudo respeita todos os ritos tradicionais. A tribo dos gorilas das montanhas não possui tecnologia desenvolvida como o restante do país, mas seu tradicionalismo é o mais evidente dentro das tribos. O país é super desenvolvido devido a exploração de um tipo de metal, o qual proporcionou tecnologias inigualáveis para aquele eles, porém o país vive uma grande mentira mantida por gerações. Vivem como um país de terceiro mundo, acreditando que sua exposição poderia arrastar a comunidade de Wakanda para o mundo errático que vivemos. O filme não aborda aspectos econômicos, porém é nítido que todos sabem sua função na sociedade e que a tecnologia é acessível a todos, assim todos podem viver bem, independente da riqueza. O que existe são nichos que, por aparência, pode sugerir que não existe pobreza. Por exemplo, a tribo dos rinocerontes são responsáveis pelas fronteiras do país. Eles vivem como pastores, mas possuem o mesmo acesso a tecnologia e benesses que o desenvolvimento proporciona. Um aspecto importante que considerei (e já mencionei) é o aspecto da escolha do Rei, que também é um guerreiro e quase que líder religioso. A escolha, como já foi falada, favorece o herdeiro e qualquer outro representante das tribos que pode desafiar o herdeiro, de modo a respeitar a individualidade e a possibilidade de cada um em ser Rei. Também existe uma guarda real, formada exclusivamente por mulheres, parecendo uma guarda da série da Mulher Maravilha misturada com os trezentos de Esparta. Num determinado momento surge um conflito filosófico entre duas personagens quando o Rei aparentemente esta morto. A chefe da guarda diz que nada poderia fazer pois fez juramento ao trono e não ao Rei, supostamente morto na cerimônia de coroação onde existe o combate. Já a outra personagem diz que jurou ao seu país e não ao trono. Parece um debate ideológico entre liberais e toris no Reino Unido, mas no final as coisas se alinharam porque o Rei não estava morto e não desistiu do combate, sendo assim ele ainda era Rei. Falando sobre a sucessão ou não do Rei, vamos a melhor narrativa que vi no filme. No processo de sucessão, já falei que qualquer membro de sangue real poderia também solicitar o desafio do combate. No passado o pai do Pantera Negra comete um crime e mata seu irmão revolucionário, deixando um filho órfão que cresce e aprende técnicas com a CIA e outros grupos que conseguem depor governantes e abalar poderes consolidados. O antigo Rei morto no filme Guerra Civil, deixa o sobrinho para trás com a ideia de continuar a esconder Wakanda. Ele é criticado pelo novo Rei, seu filho, por ter deixado a família para trás. No filme a família tem bastante destaque e a todo momento a relação do Rei com a irmã, a rainha-mãe e o pai é expressada e bastante forte. Voltando ao caso do sobrinho esquecido que vira mercenário, o mesmo tem a mentalidade idêntica a do pai, cuja teoria era usar a tecnologia de Wakanda para dominar o globo em nome da Revolução dos irmãos negros oprimidos pelo mundo. Uso da tecnologia entenda armas, como todo bom revolucionário faz quando esgota argumentos. O gostoso é saber que o Revolucionário não consegue êxito.

            Quanto ao aspecto religioso, Wakanda, apesar de bastante tecnológica, é também bastante devota. O processo de coroação por combate, transformação em Pantera Negra, culto aos animais e a Deusa Bast, fundadora do país, dentre outros aspectos são bastante similares com as religiões africanas. Outra aspecto religioso surge durante a coroação, onde o vencedor do desafio recebe o líquido da erva divina e consegue alcançar, por instantes, o plano dos mortos para acessar seus ancestrais. Não só isso, o aspecto de criação da sociedade de Wakanda tem mito fundador em cima da religião, aonde a Deusa Bast concede a erva que dá o líquido para tribo dos panteras, cujo líder acaba em definitivo com as batalhas tribais gerando o desenvolvimento daquela civilização. Quando o sobrinho esquecido solicita o desafio, o alto sacerdote morre e assim que coroado e depois de alcançar o plano espiritual, o "novo Rei" manda queimar toda as ervas. Não é difícil para um revolucionário acabar com uma religião e é bem claro o que eles pensam sobre religiões. No final o que salva o Rei deposto pelo primo é a erva divina, assim ele consegue reestabelecer todo o reino e expurgar o revolucionário, que conseguiu ludibriar uma das tribos, a qual tinha o líder mais jovem. É bastante interessante esse aspecto porque todos os outros líderes tribais são bastante tradicionalistas e religiosos, são cautelosos e respeitam posicionamentos e sabem emitir opiniões pertinentes, diferente do líder jovem que age por impulso, vontade e paixão, nada prudente.

                 Quanto ao social, Wakanda é isolacionista relativo ao restante do mundo. Sua cultura é muito religiosa e seu ethos se desenvolve vendo um mundo perverso. Escravidão na África, Guerras e  outros fatos fazem com que Wakanda se isole cada vez mais e que não tome parte desse mundo violento e egoísta. Contudo uma das narrativas do filme é que uma personagem procurar ajudar, sozinha, causas dos países africanos. No início do filme parece que ela está dentro de um caminhão com outras mulheres sugerindo que são escravas sexuais de grupos como o Boko Haram. O que torna mais interessante é o aspecto de valorização do indivíduo que o filme passa. Como o caso da mulher descrito, ela sozinha tenta fazer a diferença, sem esperar Governos. Ela não pede ajuda ao Governo de Wakanda e nem solicita ajuda ao Rei a entrar na sua causa, apesar da sua proximidade e influência. No final o Rei se reposiciona porque foi motivado pelo exemplo, ou seja, o povo pautando o Governo, não o contrário. O que ocorre é que os acontecimentos do filme fazem com que o Rei mude de postura isolacionista, inclusive faz uma crítica a Donald Trump na ONU, para que a civilização não construa muros, mas que construa pontes. A crítica é válida e o próximo filme irá dizer como isso será feito, contudo os quadrinhos mostram uma Wakanda prudente, escolhendo os países para passar sua tecnologia e acesso ao metal nobre. Ou seja, construindo pontes de forma prudente... A prudência é elemento conservador. Outro aspecto interessante é a valorização da cultura, das tradições e a verificação da preservação dos Direitos Naturais daquela sociedade, bem como os valores pró-vida que o filme passa em toda história.

                  Iremos nos deparar com inúmeras críticas, algumas bastante ideológicas como a do site UOL (gosto de dizer PSUOL): "E tudo isso imerso em uma indústria que ainda abre pouco espaço para personagens que fujam do padrão "homem branco heterossexual", capitaneada por executivos com esse perfil. Essa disparidade ficou muito clara no primeiro encontro do elenco e do diretor com a imprensa internacional, representada por um grupo de jornalistas em que não havia nenhum profissional negro. Mais um constraste: o outro filme que estava sendo divulgado pelo estúdio no mesmo fim de semana "Star Wars: Os Últimos Jedis", tem apenas um ator negro no elenco principal do filme" (https://www.uol/entretenimento/especiais/pantera-negra.htm#nunca-antes-na-historia-dessa-industria). Reparou a porcaria de crítica? Podemos então dizer que Pantera Negra não tem orientais em posição de destaque no filme, não tem brancos em posição de destaque no filme, que não tem gays, lésbicas, trans, queer, idosos de barba branca, frentistas de posto, nenhum flamenguista... UOL, é sério isso? Acham mesmo que o executivo de Hollywood está preocupado com sua representatividade no filme? Acredito que maior preocupação do executivo seja o lucro. Quem se preocupa com representatividade é mimado que não se aceita como é e quer que o mundo o aceite como ele não é.




Comentários

  1. Por mais que os produtores só visem lucro, não muda o fato que escolheram a forma certa de se trabalhar a representatividade e tanta gente "mimada" está adorando o filme.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Pantera Negra talvez seja o filme mais interessante de todos os que foram lançados do gênero ação/ficção. Acho a história muito fiel e bem trabalhada, além de tratar da questão de representatividade para vários públicos. Raramente vemos filmes de super-heróis com tanta profundidade. Essa mudança nos roteiros da Marvel abre a possibilidade de para que os filmes da categoria não sejam apenas efeitos especiais e com histórias rasas. Eu adorei e indico

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