RAZÃO OU EXPERIÊNCIA - HUME EXPLICA


OS MÉTODOS DEDUTIVO E INDUTIVO À EXPERIÊNCIA E À RAZÃO


  Hume foi um filósofo “na contra mão do seu tempo” por ser contrário a conceitos de razão, pois para pensadores contemporâneos de Hume, a razão era soberana nas demais faculdades, partindo do pressuposto de garantia de verdade aos homens, à liberdade e autonomia intelectual. Para ele a razão era uma faculdade fraca e limitada, que limitava-se, nos raciocínios, as operações matemáticas. Não será transcrito aqui as concepções entre razão e crenças e/ou paixões, porém uma contextualização do conceito de razão de Hume.
Descartes em seu Discurso de Método oferece método para conduzir a razão e procurar a verdade nas ciências, provando de forma racional a existência do cogito e a de Deus. Na Ética de Spinoza é utilizado métodos geométricos de forma a dar aspecto racional para formular verdades metafísicas inquestionáveis, ou com pouco espaço para questionamentos. Os dois pensadores estudados acreditavam que a razão era onipotente e que abarcava questões como Deus, moral, liberdade, alma e todas as questões a serem levantadas. Porém Hume acredita que a razão deve ser demonstrativa, ou seja, seu objetivo é provar que existe um "postulado que a razão clássica se constitui sobretudo com um poder de razão dedutiva” (MONTEIRO 2003 p.42). Então Hume não aceita que a razão ultrapasse limites demonstrativos e que a mesma possa provar coisas que estejam fora do seu alcance. Portanto a razão não pode fazer outra coisa senão dedução. Hume prova o contrário dos racionalistas modernos, que seria provar qualquer coisa através de métodos racionais. Cabe aqui explicar o modelo de dedução, onde a premissa maior é algo abrangente e a premissa menor é algo mais particular, ou seja, parte-se de um todo para uma particularidade. Hume faz diferente e parte do particular para um todo, porém as premissas são baseadas em observações, portanto estão mais próximas da verdade. A tradição para Hume é formada por observações e silogismos já consolidados, porém tinha uma falha. A razão procurava afastar paixões e crenças, enquanto a tradição não. Contudo razão e paixão não são faculdades opostas, mas diferentes. Elas se influenciam mutuamente. Segundo Hume, a razão pode perder a primazia diante das paixões, sendo arriscado afirmar que as paixões assumam essa posição da razão, mas não quer dizer que as paixões devam ser cultivadas em detrimento da razão, também não significa que o cultivo de paixões irão nortear ao melhor e excluir o pior. A paixão seria um instrumento motivacional ao sujeito buscar a verdade por meio da razão.





Para auxiliar essa linha de pensamento, a passagem, a seguir, do Ensaio sobre o Entendimento Humano explica um pouco sobre a crítica de Hume a filosofia racional e em mostrar que a razão teria superioridade nesta: “Os filósofos de outra classe consideram o homem mais um ser racional que um ser ativo, e procuram formar seu entendimento em lugar de melhorar-lhe os costumes.”. Com isso separa sua filosofia em simples e abstrusa e critica os filósofos que fazem tal modelo filosófico, já que acredita que o filósofo deve contribuir com o melhoramento das tradições e se comunicar com o mundo objetivo ou o homem ativo: “O mero filósofo é geralmente uma personalidade pouco admissível no mundo, pois supõe-se que ele em nada contribui para o benefício ou para o prazer da sociedade, porquanto vive distante de toda comunicação com os homens e envolto em princípios e noções igualmente distantes de sua compreensão.”. Assim critica os racionalistas que não buscam evidências empíricas e não são acessíveis ou produtíveis para melhoramento da sociedade. Tal formulação reitera a ideia dos limites do método dedutivo, já que a filosofia abstrusa não esta interessada em conceitos mais acessíveis ao não iniciado e que os racionalistas não se baseiam em observações, assim Hume diz “O homem é um ser racional e, como tal, recebe da ciência sua adequada nutrição e alimento, Mas os limites do entendimento humano são tão estreitos que pouca satisfação se pode esperar neste particular, tanto pela extensão como pela segurança de suas aquisições”. Ou seja, ele questiona as fontes que irão gerar as deduções racionalistas e concluí “embora nosso pensamento pareça possuir esta liberdade ilimitada, verificaremos, através de um exame mais minucioso, que ele está realmente confinado dentro de limites reduzidos e que todo poder criador do espírito não ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou de diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos sentidos e pela experiência."
Portanto o pensamento de Hume exige experiências e observações para formulação de conclusões, bem como a relação de idéias, ou seja, a razão esta limitada e que o método dedutivo não produz informações novas, apenas esclarece algo já sabido e chega a conclusões especulativas, já que parte de premissas racionais e não empíricas. Quanto a indução, Hume diz que ela não oferta uma previsibilidade, ou seja, um comportamento comum ou regular no futuro, porém vai ajudar na formulação de crenças que nos ajudam no cotidiano. Hume orienta a fazer ciência a partir das crenças. Assim a crítica a razão de Hume permanece firme, o que podemos perceber nas ciências contemporâneas, o que remete a necessidade de provas empíricas para construir teorias e, na maioria dos casos, o desenvolvimento de ciência e tecnologia em benefício da sociedade e na facilitação do cotidiano. Hume vai além, levanta questões sobre o funcionamento da mente humana na formação de ideias e seus princípios de associação: “Para mim, apenas há três princípios de conexão entre as ideias, a saber: de semelhança, de contiguidade - no tempo e no espaço -  e de causa e efeito. O pensamento de Hume ajudou as ciências humanas na proposta de investigar o funcionamento da mente e na sua formulação de ideias, bem como na teoria de causalidade e os limites do conhecimento humano, tudo baseado em fontes empíricas, na experiência e na formação de crenças e tradições.





      Vejamos a sentença acima, Hume diz que podemos ter vários imagináveis para o mesmo fato, contudo devemos ajusta nossa crença, ou seja, o que consideramos como verdade às evidências. Isso vai de encontro, por exemplo, aos tão falados "especialistas". Os mesmo possuem pensamentos dedutivos e querem aplicativo-los a contextos que não atendem as evidências. Uma teoria de gabinete que é levada a crer ser correto por suposto uso da razão ou ter certo respaldo científico, contudo não consegue passar por um simples teste da realidade e do objetivo.

Referências

DAVID, Hume. Ensaio sobre Entendimento Humano. Versão eletrônica grátis. Amazon

MONTEIRO, João Paulo. Novos estudos humeanos. São Paulo. Discurso Editorial, 2003.  

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